Era uma vez uma jovem de 26 anos, uma jovem com toda a sua
vida pessoal e profissional a começar … e um belo dia um senhor de bata branca
e estetoscópio disse-lhe: “Nós vamos operar esta mama, e só na operação vamos saber
o que vamos tirar.”
Esta história podia ser a história de qualquer jovem neste
mundo, mas foi mesmo a minha história. Foi um Outubro nada Rosa, aliás um
Outubro e um Novembro bastante negros.
Vivo rodeada de pessoas que nunca ouviram esta historia e desconhecem a cicatriz que trago no peito, resultado dela. Sim foi uma história
com final feliz, mas podia não ter sido e só vos vou contar para perceberem a
importância do rastreio e diagnostico precoce no cancro da mama.
Tudo começou em Junho de 2014, numa mera consulta de rotina,
ou melhor não lhe vamos chamar rotina, a consulta estava marcada com a médica
família devido a umas diarreias e desconforto abdominal que persistiam há meses,
já com um emagrecimento associado e uma falta de apetite. Uma semana antes
dessa consulta e num simples gesto rotineiro de enrolar a toalha ao peito após
um banho refrescante, houve um toque desconfortável no seio esquerdo. Foi estranho,
foi assustador, quando ao palpar mais ao pormenor senti algo duro, algo que não
devia estar ali, algo que nunca tinha sentido nem no dia antes nem há dois
meses atrás, algo que parecia ter nascido ali naquele dia mas de certo já lá
estava há muito tempo.
Nas noites e dias que se seguiram foi difícil dormir deitada
para lado esquerdo, foi difícil vestir um sutiã, parecia que tudo incomodava,
não era dor, era uma sensação esquisita. Chegou o dia da dita consulta, aquela que
era só por causa de umas diarreias. Aquela que diagnosticou síndrome do cólon
irritável por uma provável intolerância à lactose (um dia também vos falarei
sobre isso).
Nessa consulta foram pedidos vários exames, incluindo
ecografia mamária e uma consulta urgente para a especialidade de ginecologia.
Tal como a medica disse podia não ser nada, mas podia ser muita coisa. No final
do mês de Agosto tive a consulta de ginecologia. A ansiedade era maior que eu…
mais uma vez não foi nada conclusivo, mas voltei a ser encaminhada neste caso
para consulta de Cirurgia Geral.
A Consulta de Cirurgia foi no dito Outubro, a 4 dias de
fazer os meus 27 anos. Aquela consulta que já mais esquecerei, com um medico de
poucas palavras. A primeira coisa que me perguntou após um longo silêncio a ver
meus exames, foi se tinha alguém com historial de neoplasia na família. Na
realidade até tenho e muitos com finais poucos felizes. Escreveu a minha
resposta no computador e pediu para me despir da cintura para cima. Sim não é
algo nada confortável. Mas é um gesto que pode fazer muita diferença na vida e
uma mulher. Após alguns segundos que pareceram minutos ou mesmo horas de
observação física, saíram as seguintes palavras a quebrar o silencio: “Isto que
aqui está é para operar.” Gelei de cima abaixo…estava a espera de “vamos fazer
mais exames” ou “repetir exames daqui a uns meses” mas não, nesse momento
começou a contagem decrescente para aquilo que ia acontecer que nem eu percebi
bem o que era, apesar de já ser enfermeira há 3 anos.
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Fonte : https://www.ligacontracancro.pt |
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