4.2.20

Dia 4 Fevereiro - Dia Mundial da Luta contra Cacro - A minha historia Parte 2

(continuação)...

Naquela manhã de Novembro, já não me recordo bem qual dia, pois quis apagar da minha memória. Como se tal fosse possível...

Acordei bem cedo se é que alguma vez cheguei a dormir, mas estava estranhamente calma, acho que já tinha passado a ansiedade toda que se podia ter na vida. A minha operação era o primeiro tempo do bloco operatório e até foi bom que assim nem tive tempo para pensar em mais nada. 

Quando lá cheguei despi tudo e vesti a bata azul. Fiquei até sem óculos, o que me irrita profundamente pois nem consigo distinguir a cara das pessoas. Estive numa sala nem meia hora se tanto a pensar que tudo ia acabar rápido. Ou então começar a pior fase da minha vida. 

A ida para bloco foi horrivelmente rápida, estava um frio horrível e foi ai que comecei a tremer não sei de nervos se de frio. Toda a gente foi cinco estrelas comigo, o ambiente era calmo e divertido para ajudar a descontrair.  Quando me começaram anestesiar a ultima coisa que me lembro foi de ver a luzes do bloco a bailar e disseram: "fecha os olhos que isso já passa." E fechei...

Acordei cheia de calor , deitada para o lado direito, e mesmo sem saber se estava ali alguém perguntei se me podia virar barriga para cima, responderam lá do fundo que sim. Quando me voltei percebi que tinha o enorme volume de compressas na mama esquerda, espreitei por baixo da roupa e pensei : "se tenho este volume todo deve ser porque não me tiraram a mama."

A operação não demorou muito mais de uma hora mas pareceu uma eternidade o tempo que tive a dormir. Até subir para enfermaria ai sim estive horas à espera. Mas ao inicio da tarde la me levaram. Perguntei às enfermeiras se tinha corrido tudo bem, disseram que sim , mas tinha um tubo a sair do penso ligado a um saco cheio de sangue, era normal segundo elas. 

Comecei achar que já me tinha safado desta. Mas só no dia seguinte tive um médico ao pé de mim. Que veio retirar o penso e o dreno, e só ai percebi que estava tudo igual, tinha a minha mama completa, só tinham tirado o tumor. Mas ainda tinha esperar três semanas para saber se era maligno ou benigno. 

Foram as três piores semanas da minha vida. As dores na mama não foram fáceis, a cicatriz infectou. A consulta para saber resultado da análise ao tumor foi no inicio Dezembro. Estive horas numa sala de espera do serviço de Oncologia, aquele dia podia ser o ultimo de um grande susto ou primeiro de uma enorme batalha. Foi nessas horas de espera que mais me apeteceu chorar, aquelas pessoas olhavam-me com ar de pena, quando eram elas que ainda estavam mais doentes que eu. Entrei sozinha no gabinete embora a minha mãe me tivesse acompanhado sempre, disse bom dia ao medico que me operou , nem sei se ele me respondeu. Tinha o olhar fixo no computador e de repente olhou para mim e disse: "Parabéns, Isto foi mesmo a tempo!"

Não sabia que aquilo queria dizer mas senti me aliviada percebi que tudo tinha acabado. Ele explicou me depois que o tumor tinha uma grande probabilidade de se tornar maligno pelas suas características e iria assim precisar de uma vigilância mais apertada até ao fim da minha vida. Mas a mama estava lá toda, eu estava igual, o tumor era benigno e aquele foi meu primeiro e ultimo dia no serviço de Oncologia.

Acredito que muita gente, se calhar maior parte não tenha uma historia com final feliz como a minha...mas o tempo, a rapidez com que tudo se faz e actuar logo aos primeiros sinais é muito importante para um final feliz. 



Sem comentários:

Enviar um comentário